Sob a luz baixa de um corredor comprido, com quadros de Freud na parede, eu entrei tremendo numa sala.
Eu não imaginava que tal lugar poderia me proporcionar tantos pensamentos. Entre todos eles, o maior questionamento que me ocorreu foi: "por que você olha tanto para fora?"
Valorizar o que o próximo tem de bonito é excelente e nos impulsiona para ser melhores. Veja bem, quando você fecha os seus olhos e pensa em suas amigas, por exemplo, o que lembra de mais especial e bonito sobre elas?
De uma eu lembro da pele, lisa como veludo. Da outra eu lembro do cabelo cor do sol. Da outra eu lembro da arte, e o modo como toca violão. De uma outra ainda, da bondade e da capacidade de ser gentil.
Observar tantos aspectos bonitos naqueles em que amamos é algo incrivelmente saudável, desde que isso não nos esvazie de nós mesmos.
Talvez, assim como eu, você carrega essa dúvida inquietante dentro de si.
"Por que uma pessoa ama a outra?" Eu nunca soube da resposta e nem a minha analista, que sentava na minha frente numa poltrona, sob a luz baixa com Freud nos olhando.
Quando não conseguimos entender porque somos amados, nossa cabeça tem dois caminhos: se alegrar ou entrar em perturbação. Há tantos outros rostos melhores do que o meu. Tantos corpos melhores esculpidos. Tantas artistas e mulheres de cabelos dourados. Tanta gente com mais inteligência emocional do que eu. Tanta gente que ganha melhor do que eu, com independência dentro de si.
Eu me vi, então, perdida em determinado momento da minha vida. Desde então, tento me encontrar, mas nunca consigo. Talvez porque eu esteja esperando de fora, aquilo que só pode vir de dentro, e por isso seja tão complicado, somos todos solitários dentro da nossa cabeça.
Imagem: blog - Eu sem fronteiras
"Você olha muito para fora, quando carrega um mundo interno muito rico dentro si."
Quanto de você ficou para trás? Nas pessoas que te feriram e nas pessoas que você feriu. Quantas músicas você deixou de ouvir? Livros que criaram poeira na estante. Quanto tempo de vida você perdeu criticando tudo aquilo que já conquistou, sem se sentir merecedora do amor que tem ou teve um dia?
É que a gente olha muito para fora. Quando tudo o que temos está bem aqui. Acredite, não é uma tarefa fácil - sentir que alguém quer ficar - quando todo mundo foi embora da sua vida. Não é tarefa fácil não se sabotar, focar na experiência e não numa pessoa. Não é tarefa fácil dar novo significado aos seus erros e ser gentil com você.
Viver no presente é possível. Olhar pra dentro é possível. Desde que você pare de carregar com tanta dor o passado, e desde que pare de carregar com tanto medo o futuro.
Segure na mão de Deus um pouquinho. Peça pra ele sentar do lado da sua cama para você dormir. Converse com ele. Com o Buda ou qualquer ser em que acredite.
Voltar para si, é voltar para casa. Tudo está igual, menos você. Mas você ainda está em casa.