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  • Foto do escritorMaria Luísa Bergamasco

Sobre o uso da Cloroquina

Atualizado: 9 de mai. de 2021

Quando eu tinha 12 anos eu estava internada num hospital em São Paulo com outras crianças. Quem me conhece sabe que não falo muito sobre isso, mas nesta manhã de domingo, entre meu chá e a tapioca, após ouvir um podcast, decidi que precisava escrever.

No meu quarto, eu presenciei crianças com câncer no cérebro, e com problemas cardíacos, assim como o meu. Era muito para processar. Ainda é. Mas por "sorte" a minha família sempre foi "bem instruída" e não aceitava qualquer verdade sobre a metodologia de meu tratamento, assim como medicação. Minha mãe perguntava o porque de TUDO que enfiavam em mim, seja de modo oral ou na veia.


Lembro de conhecer uma menininha loira, chamada Paloma. A família dela era extremamente humilde e um dia, mãe e filha começaram a chorar no quarto. O médico da menina havia falado pra elas que Paloma precisava tomar cuidado após a cirurgia, porque ela poderia sair na rua e morrer. O assunto foi interpretado ao pé da letra, causando pânico na paciente.


O que isso tem a ver com a cloroquina?


Enquanto eu me informava sobre o assunto, eu lembrei da família da Paloma e torci pra estarem todos bem nessa época. Não há NENHUMA comprovação científica em relação a eficácia do uso da cloroquina na melhora do quadro de pacientes com Covid-19. Acredita-se que os próximos passos do nosso ilustre presidente, seja colocar no cargo de ministro da saúde alguém para compactuar com suas ideias. Uma delas, colocar o medicamento para rodar no SUS o quanto antes. A ciência nunca foi tão desprezada no Brasil. O que eu não sabia, e descobri hoje, é que a cloroquina tem um efeito colateral considerado GRAVE - a aceleração intensa dos batimentos cardíacos.


"Eu nunca vou usar isso dai sem comprovação científica", pensei. Mas e a Paloma? Será que se o medicamento for apresentado pra ela ao pé da letra, como uma saída para a vida, ela não iria usar? Esse texto não é sobre o intelecto de Paloma, e sim direcionado à quem a cloroquina irá ser distribuída (caso isso aconteça de fato), que são à pessoas - muitas vezes - de pouco acesso a informação. Além disso, muita gente está com medo e pode acabar aceitando, inclusive, mesmo com acesso a informação.


É muito triste ver a saúde e a vida sendo tão banalizada. Por que não investir em equipamentos respiratórios neste momento? Por que não apoiar a ciência ao invés de segregar o Brasil? Eu não sei onde estão os eleitores do Bolsonaro, e adoraria entender o lado de quem apoia este tipo de governança, mas sendo cardíaca fica difícil. Espero por dias melhores, parece que não me resta nada mais.


Imagem: BBC

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