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  • Foto do escritorMaria Luísa Bergamasco

Oi, prazer, sou muitas

Walt Whitman costumava dizer: "eu me contradigo, sou vasto. Há multidões em mim." Desde que entendi o verdadeiro significado dessa frase, tenho tentado me tratar um pouco melhor.


Numa madrugada fria, eu me peguei questionando das muitas que habitam em mim.


Eu sou o riso alto. Quase como num circo, sou equilibrista. Eu sou o palhaço no palco, e a moça com as mãos suadas sofrendo para abrir as cortinas do meu próprio espetáculo.


Eu tomo cerveja, mas prefiro vinho. Falo muito alto, e falo sozinha (em voz alta). Misturo uma dose de algo que me faz mal, as vezes, só para me sentir um pouquinho mais livre.


Eu sou a minha maior prisão. E onde eu passo a maior parte do tempo é dentro da minha cabeça.


Levo a vida de forma engraçada e tento ver beleza em absolutamente todas as coisas, por pior que elas sejam, mas mudo de humor com facilidade se você apertar o botão do trauma. Ou melhor, os botões, dos traumas.


Não sou feliz o tempo inteiro, embora eu pareça. Faço amizades facilmente, na fila do pão, no banheiro, e por isso, tenho dificuldade de distinguir quem posso levar para dentro de casa, e quem não passa do portão. Cheguei a crer que eram todos bons os que cruzavam o meu caminho. Eu era muito inocente.


Tenho um medo grande e absurdo de me tornar uma pessoa ruim, fria e indiferente. E quando me pego sem sentir nada por ninguém, fomento qualquer sentimento em mim, só pra lembrar que estou viva.


Uma vez me chamaram de inconstante. A dor de habitar muitas versões em mim me atravessou, quase como uma dor física. E percebi que apenas fica comigo, quem não quer só as minhas partes boas. Fica comigo quem entende que eu amo segunda-feira e odeio a sexta.


Hoje separo um cantinho pra cada eu. Tento compreender a complexidade do meu riso e pranto. Algumas partes minhas, eu acolho com uma coberta. Outras, eu apunhalo com a força de meus pulsos magricelos.


Sempre quis ser herói. Uma arrogância feia em achar que posso mudar as pessoas com meu carinho e amor. Não consigo, e por isso também sofro.


Me frustro. Sinto raiva. Respiro pra não virar o "Hulk". Corro como o Flash, mas no final do dia, ah, eu sempre me sinto como o Homem Aranha. Ele está sozinho, ele não se encaixa em nada. Ele pode ir onde quiser, no final do dia, ele é só o Peter Parker.

Foto: Imagens do Google

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